Dídimo Heleno

Quando um jornalista é agredido no exercício do seu ofício não é exagero dizer que o ataque é também à liberdade de expressão, ao livre pensamento, à democraica, enfim. Quando há um levante contra a imprensa, quando muitos discursam em redes sociais e comemoram o soco que a repórter Delis Ortiz levou no peito, é hora de ficarmos bastante alertas. 

A imprensa, também chamada de “quarto poder”, sempre foi alvo principalmente dos que não suportam ouvir ou ler o que não é do seu interesse. Nos países ditatoriais jornalismo bom é aquele áulico, controlado pelo governo, que só diz o que é conveniente e desde que seja para elogiar e “passar pano” nas atrocidades porventura cometidas. 

De qualquer forma, num país democrático – e o nosso sempre teve a pretensão de ser –, por mais que se critique a imprensa, ainda é muito melhor com ela. Na confusão durante uma entrevista que o ditador Nicolás Maduro concedia no Itamaraty, em Brasília, repórteres tentaram se aproximar quando foram impedidos por seguranças a serviço do Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Tudo isso é muito apropriado num momento em que se recebe com todas as delicadezas um ditador que está acostumado a descer o cacete em seu próprio povo. Lula, com isso, cumpre, com todas as honras, o seu papel de infeliz anfitrião. Nada poderia agradar mais o venezuelano do que a “adorável” pancada numa jornalista.  

A imprensa existe justamente para informar e, de preferência, noticiar o que a maioria não sabe. O repórter cumpre o papel de mostrar ao público o que está a acontecer, esmiuçar, incomodar mesmo. É assim que deve funcionar o bom jornalismo, com destemor e credibilidade. 

O murro no peito da jornalista Delis Ortiz é uma oportuna metáfora dos tempos obscuros em que vivemos. Temos um governo eleito pelo povo, com nítido viés de esquerda, mas que não consegue governar com um Congresso cuja maioria é de direita, uma verdadeira fotografia do que foi a eleição, disputada cabeça a cabeça. 

A intolerância é o epíteto dos nossos dias. Ninguém tem mais paciência com o outro, o diálogo foi substituído por agressões, principalmente virtuais. As redes sociais estão inundadas de pessoas transbordando de razão, especialistas em tudo, donas de suas próprias verdades. Há um quase palpável frenesi do ódio por todos os cantos. E esse é um sentimento comum, independentemente do espectro ideológico do ser que o detém.