Dídimo Heleno

Eu conheci o Hermann Rezende Póvoa ainda na tenra infância inesquecível que passamos em Dianópolis, “Terra das Dianas”, na região Sudeste do Estado do Tocantins. Ele sempre muito criativo, inquieto, curioso, como são aqueles que nascem com mentes privilegiadas, desde cedo revelou sua inclinação para as coisas da Ciência. Somos primos e por um longo período, entre a vida de criança e início da adolescência, éramos muito próximos, como “carne e unha”. 

Hermann dedicou-se arduamente aos conhecimentos da eletrônica e o comparo ao tio Coque numa versão mais jovem, outro da minha terra que era uma espécie de cientista autodidata. Aquele menino curioso e criativo sempre nos surpreendeu com geringonças saídas de sua mente fértil, criando espécies de robozinhos com pilhas, produtos únicos produzidos com a simplicidade genuína dos que, mesmo dispondo de poucas possibilidades materiais, conseguiam parir criações de onde menos se imaginava.

Foi com esse nome germânico numa cidade repleta de Joões, Joaquins e Marias que Hermann se impôs como um dos mais inteligentes da nossa geração, capaz de dominar como poucos o campo da eletrônica, consertador de simples fusíveis a máquinas sofisticadas. Em sua casa, aliás, são todos assim. Os seus irmãos Euller e Saulo foram pelo mesmo caminho, igualmente respeitados na área. Foi na eletrônica do pai, Antônio Póvoa, que forjaram os seus conhecimentos. Com a mãe, Maria Rezende, e a irmã, Ana Valéria, formam uma das mais exemplares famílias dianopolinas.

Nós, os meninos da minha época, tínhamos como principal passatempo o futebol, que jogávamos dia sim e dia também. Hermann, ao contrário, jamais foi afeito a essa modalidade e preferia os fios, baterias, pilhas e tudo que lembrasse um emaranhado de placas, eletrodos, soldas, parafusos, compressores e luzes piscando. Sinceramente, eu jamais o imaginei se imiscuindo no mundo dos esportes. Mas eis que, aos 41 anos de idade, ele, com sérios problemas de coluna, recebeu de um médico a recomendação de que se dedicasse à natação. 

Mas preferiu o ciclismo, ou “bike”, na gíria do meio. Hoje um cinquentão, é preciso usar uma lupa para encontrar em seu corpo esguio algum sinal de gordura. Dedicadíssimo ao esporte, uma espécie de Abílio Diniz do mundo das bicicletas, se apaixonou tanto por esse veículo de duas rodas que, até o momento, já percorreu mais de 30 mil quilômetros nos arredores de Dianópolis e região. 

Hermann foi o primeiro incentivador e criador de grupos de MTB (Mountain Bike) em sua cidade natal e foi um dos fundadores da Associação de Ciclismo de Dianópolis (ACD), a primeira da região Sudeste do Tocantins, da qual foi vice-presidente por dois anos. Ele passou de cliclista amador a profissional por meio da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) e da Federação Tocantinense de Ciclismo (FTC). 

Com todo esse know how adquirido, já participou de inúmeras competições no Tocantins e em outros Estados. Hermann é um exemplo de perseverança, dedicação e superação. Acumulou até agora vários pódios em árduas competições, como os 110 quilômetros do Desafio do Cerrado, no Oeste da Bahia, na cidade de Luís Eduardo Magalhães. Venceu por duas vezes o desafio Duro Race, em Dianópolis, enfrentando cinco serras brutais. 

Hermann participou de outros desafios de ciclismo em Porto Nacional (TO), Miracema (TO), Goianira (GO), Luís Eduardo Magalhães (BA), Goiânia (GO), além de incontáveis em Dianópolis. Ele conta com um sorriso largo no rosto que nessas andanças ciclísticas teve a oportunidade de conhecer lugares inóspitos e inesquecíveis, podendo apreciar de perto belezas como as das cachoeiras da Fumaça, Acaba Vida, do Calixto, das Orquídeas, Cavalo Queimado, do Registro, Brejo Limpo, dos Pilões, do Cânion Encantado, da Ré, do Cantão, do Cipó Grosso, da Verdade e tantas outras.

Ele veio do mundo da eletrônica, mas se diz um apaixonado por ciclismo e se transformou num grande exemplo não somente aos da sua geração, mas a todos que queiram começar uma modalidade esportiva. Hermann mostra que nunca é tarde. Por ter começado depois dos 40, os amigos o apelidaram carinhosamente de “Vovô da Bike”. Inspirados por Hermann, outros até mais velhos passaram a se dedicar ao ciclismo, como Ary Lustosa, Pery Póvoa, Zé das Placas e muitos outros. No momento Hermann se prepara para mais um desafio: o GP Goiás, percurso entre Goiânia e Pirenópolis. 

O ciclismo se tornou bastante popular em todo o Tocantins e pessoas como Hermann acabam influenciando novos adeptos a cada dia. Como ele, Marcelo Aires, o “Magaiver”, é outro amante do esporte, tendo feito viagens de Brasília (DF) a Dianópolis (TO) em cima da “magrela” e também viajou por alguns países europeus sobre duas rodas. A respeito de suas andanças na região dianopolina, Hermann declara: “Posso dizer literalmente que conheço cada palmo desse chão duro e árido que o nosso padroeiro São José abençoou”. Aplaudo-o de pé!