Estou acabando de ler uns escritos que me parecem definitivos a respeito da vida de um personagem épico na história deste país: Luís Carlos Prestes. Trata-se de Luis Carlos Prestes, um revolucionário entre dois mundos do respeitado historiador da Universidade Federal Fluminense Daniel Aarão Reis.

Homem notabilizado pelo caráter, pela inteligência e pela coragem, o “Cavaleiro da Esperança” é realmente uma personalidade a ser respeitada não só no Brasil, mas em todo mundo. Como Nelson Mandela e Fidel Castro, Prestes traz inerente a   personalidade de  sua vida que se confunde com a história de seu país e de certo modo com a própria construção do comunismo no mundo. Ideologias à parte, foi um homem de profundas convicções. Acreditou nelas e por elas pagou um alto preço. Prestes foi o nosso El Cid.

Um dos acontecimentos mais notáveis de sua história se atrela ao conceito de guerra de movimento. Sob sua liderança eclodiu o mais importante movimento de guerrilha que enfrentou as forças do governo do então presidente Arthur Bernardes por estes sertões do Brasil naqueles idos dos anos 1920 do século passado: a Coluna Prestes. Pasmem: foram quase vinte seis mil quilômetros percorridos em dois anos. Só para ter uma ideia tal distância equivale a uma viagem do Brasil a China só que feita a cavalo!

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O gênio militar de Prestes concebeu a guerra de movimentos por ser esta a única maneira de enfrentar os exércitos do governo. Desse modo a coluna movimentou de um extremo a outro do país enfrentando tudo que é tipo de privações. Nunca foram derrotados. No final, Prestes e seus exilados acabaram se exilando na Bolívia e Argentina. Com a mudança de governo muitos foram perdoados, menos Prestes que no exílio leu profundamente Marx e sendo o homem de convicções que era se converteu ao comunismo. Sua história estava apenas começando. Mas isso é outra conversa. Voltamos aos tempos da Coluna.

No transcorrer de sua cruzada épica, Prestes e seus comandados passaram sete dias em Porto Nacional. Chegaram em Porto no dia 16 de outubro de 1925 sendo na ocasião recebidos pelos frades dominicanos franceses tendo como superior o frei José Audrin. Os soldados se espalharam pela cidade enquanto os chefes da coluna se hospedaram no convento. Aarão Reis assim transcreve a impressão que teve o cavaleiro da esperança de sua estada em Porto Nacional: “Fomos muito bem recebidos pelos frades [...]. O quartel-general ficou no convento [...] tivemos aí uma boa comida, conversas e vinhos franceses.” Frei Audrin, de seu lado, não deixou de expressar a boa impressão que teve do líder da coluna: “de todos os membros do exército revolucionário [...] o coronel Luís Carlos Prestes era o mais ponderado e atencioso para com os nossos sertanejos.”

Foram sete dias de paz, talvez os menos turbulentos para a Coluna, a não ser pelo susto que levou o cavaleiro da esperança: ao nadar no Rio Tocantins Prestes quase se afogou ao ser levado por uma correnteza. Ainda bem que lá estava o major Lira para salvá-lo. Se tivesse se afogado muito da história que estaria por vir na vida do Prestes comunista nos tempos de Getúlio Vargas teria ido embora nas águas do Rio Tocantins na cidade de Porto Nacional.

Salatiel Soares Correia é Engenheiro, Bacharel em Administração de Empresas, Mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outros livros, de A Energia na Região do Agronegócio

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