Aqueles que militam no meio acadêmico, na área de ciências sociais, conhecem os livros de um professor da Universidade de Londres chamado Anthony de Giddens. A internacional academia de sociologia entende que esse pesquisador é um dos mais respeitados sociólogos do planeta. Para aqueles que não o conhecem, ele foi um dos pioneiros a desenvolver estudos teóricos sobre a globalização.

Pessoalmente, sempre, tive dúvidas sobre qual dos seguintes sociólogos poderia ostentar o reconhecimento entre seus pares de o melhor do mundo: Anthony Giddens; o professor da Universidade de Nanterre, Alain Tourraine; ou o docente da Universidade da Califórnia, o espanhol Manuel Castells. Pouco importa, todavia, pois eles se completam uns aos outros. Voltemos, então, a falar do professor da Universidade de Londres.

Para os menos informados, Antony Giddens é o mentor intelectual da chamada terceira via de Tony Blair e Fernando Henrique Cardoso. Esse notável intelectual tem muitas pesquisas em torno de um tema polêmico como é a modernidade. No entendimento dele, mudanças drásticas têm de ser implementadas no sistema social pelo seguinte motivo: a modernização provoca um desencaixe entre o tempo e o espaço. Vejamos dois exemplos desse conceito.

A modernização bancária via inovação tecnológica provocou um desencaixe entre o tempo e o espaço. Nesse sentido, Anthony Giddens coaduna com as ideias de outro nome bastante respeitado entre os cientistas sociais. Falo do grande Peter Drucker, autor do conceito “trabalhador do conhecimento”, aquele que nunca para de estudar por ter o espírito do eterno aprendiz.

Há exatos 5 anos, visitei um país que enfrenta o dilema entre manter a tradição ou aderir à nova ordem mundial globalizada: a Turquia. Explico. Aquele país mulçumano tem por tradição parar tudo o que seus habitantes fazem para que estes rezem quando a voz do muezim (religioso islâmico), nos minaretes – uma espécie de torre nas mesquitas que serve como um poderoso lembrete visual da presença do Islã –, ecoa por todos os lados. Do alto delas, avisa os mulçumanos das cinco orações diárias que eles devem fazer voltados para Meca. 

Essa tradição, por sua vez, contraria a lógica do capitalismo em busca do lucro. Eis aí um grande desafio que vem passando as multinacionais que se instalam no país do grande Ataturk.

Por enquanto, entre os turcos, a tradição vem falando mais alto do que o desejo de ser moderno. Quando lá estive, percebi a preocupação do governo em se adequar aos ventos modernizantes da globalização. Já conhecendo as ideias de Giddens, pude perceber, não com olhar do turista, essa luta entre a tradição e modernidade preconizada nos escritos desse grande sociólogo que é, sem dúvida, Antony Giddens. 

Salatiel Soares Correia é engenheiro, bacharel em administração de empresas, Mestre em energia pela Unicamp. É autor de oito livros relacionados aos temas energia, literatura, política e desenvolvimento regional.