Entrei dezembro carregando a vontade simples de respirar, tirar as sandálias da rotina e dar um passo atrás das urgências. Férias sempre sugerem uma trégua, ainda que pequena, daquela sensação de que tudo aperta. Só que o país não suspende tragédia, nem combina pausa com ninguém. Enquanto eu buscava silêncio, manchetes subiam como estalos de fogos em horário errado. Antes mesmo de eu fechar a porta do trabalho, um feminicídio no sudeste do Tocantins rasgou o estado inteiro. Uma técnica de enfermagem e o ex-companheiro foram encontrados mortos. Um daqueles casos que abrem a pele da gente e lembram que ser mulher ainda exige vigilância constante. A data marcava novembro, o mês em que a Consciência Negra tenta puxar o país pela gola e pedir reflexão, além de concentrar campanhas de combate à violência contra a mulher.