O Itamaraty admitiu que a viagem da comitiva brasileira à Israel não resultou em um acordo sobre o spray nasal contra a Covid-19. A viagem, liderada pelo ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo também não obteve sucesso para o compartilhamento de tecnologias de combate à pandemia.As informações estão em documento enviado pelo Itamaraty à bancada do Psol na Câmara dos Deputados. O documento foi enviado no dia 7 de maio, mas foi divulgado apenas nesta sexta-feira (14).De acordo com as informações fornecidas pelo ministério, o termo de cooperação sobre o spray nasal não foi finalizado porque o Ministério da Saúde não assinou o documento. Na carta de intenções é possível ver que Araújo assinou o texto, assim como o representante de Israel. Mas o representante da Saúde, não.“[…] O projeto da carta não teve sua celebração completada, uma vez que não foi assinada pelo representante do Ministério da Saúde e não chegou à troca de instrumentos entre os signatários, conforme prática de negociações internacionais“, diz o documento assinado pelo atual ministro das Relações Exteriores, Carlos França.Os dados do Itamaraty afirmam que a viagem era planejada desde maio de 2020. Diversos telegramas foram trocados sobre a ida da comitiva brasileira. Mas todos esses telegramas foram colocados sob sigilo. São 24 telegramas em sigilo por 5 anos, ou seja até 2026, e outros 4 por 15 anos, até 2036. Os motivos para o sigilo não são informados.Como a viagem foi planejada por meses, para França, isso prova que a comitiva tinha outros interesses além da pandemia. Ele afirma que o objetivo era aprofundar a relação diplomática entre os dois países.No entanto, logo depois da viagem, o governo brasileiro exaltou as propriedades do spray nasal. O medicamento foi desenvolvido pelo governo de Israel e que foi brevemente testado em pacientes que faziam tratamento contra a covid-19 em um hospital do país.Em 9 de março, mesmo dia mencionado na carta de intenções sobre o spray, a Assessoria Especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República afirmou: “O governo brasileiro está levando resultados bastante concretos na bagagem”.O custo da viagem, de acordo com o Itamaraty, foi de R$ 88.245,07. Mas o valor gasto com o deslocamento até Israel, no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), não foi informado nos documentos enviados ao Psol.A VIAGEMUm grupo de 10 pessoas do governo federal foi para Israel em 6 de março para negociar o compartilhamento de tecnologias de combate à pandemia e o spray nasal EXO-CD 24. A comitiva contou com os seguintes representantes do governo Bolsonaro:Ernesto Araújo, então ministro das Relações Exteriores;Deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP);Deputado Hélio Lopes (PSL-RJ);Fábio Wajngarten, então secretário de Comunicação;Filipe Martins, assessor da Presidência da República;Embaixador Kenneth Félix Haczynski da Nóbrega;Hélio Angotti Neto, do Ministério da Saúde;Marcelo Marcos Morales, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação;Max Guilherme Machado de Moura, da Secretaria da Presidência da República ePedro Paranhos, do Ministério das Relações Exteriores.A ida dos brasileiros a Israel, em um dos piores momento da pandemia, em que recordes de mortes eram batidos constantemente foi repleta de gafes e embaraços.Vídeo anterior ao embarque compartilhado pelo deputado Eduardo Bolsonaro mostra todos sem máscara. Na foto divulgada pelo Itamaraty na manhã do dia seguinte, que mostra o desembarque em Israel, o grupo aparece usando máscaras de proteção.No mesmo dia, durante um evento oficial, o locutor que anunciava os nomes das pessoas presentes solicitou ao ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que colocasse a máscara de proteção, no momento em que o grupo faria uma foto oficial.Depois do desembarque, a equipe ficou confinada no hotel e só pôde sair para ocasiões previamente agendadas. Isso porque Israel têm um rígido controle de quem entra no país, obrigando visitantes a realizar quarentena de 7 dias.