Salatiel Soares Correia

Recentemente, recebi uma ligação de um empresário da região de Itaberaí, em Goiás. Ele relatou um problema alarmante: a “empresa”, concessionária responsável pelo fornecimento elétrico local, informou que só poderia disponibilizar energia para sua nova unidade produtiva daqui a dois anos. A indignação do empresário é compreensível, considerando que energia elétrica é um insumo essencial para o crescimento econômico e a manutenção de empregos. Sem a expansão necessária, o impacto será inevitável: cortes de pessoal e prejuízos financeiros para sobreviver à espera. Contudo, essa situação é apenas a ponta de um iceberg que reflete problemas estruturais mais profundos no setor elétrico brasileiro.

<h2>O que são ganhos de produtividade?</h2>

Ganhos de produtividade representam a eficiência adicional obtida por uma empresa ou setor ao produzir mais com menos recursos. No contexto das concessionárias de energia, esses ganhos podem surgir da modernização de equipamentos, da redução de perdas na distribuição ou da automação de processos. Por exemplo, uma empresa que investe em tecnologia para minimizar o desperdício de energia na rede pode gerar mais receita com o mesmo volume de energia adquirida.

Esses ganhos deveriam, idealmente, ser revertidos em benefícios para os consumidores, como tarifas mais baixas ou maior capacidade de atender à demanda. Entretanto, a legislação vigente permite que as concessionárias retenham parte desses ganhos, desde que respeitem os limites estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Essa apropriação visa remunerar o capital investido e incentivar melhorias no sistema.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/a-pujante-literatura-gaucha-1.3204036" target="_blank">A pujante literatura gaúcha</a> 
<a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/a-musica-do-brasil-profundo-e-o-desdem-de-lulu-santos-1.3202012" target="_blank">A música do Brasil profundo e o desdém de Lulu Santos</a></div>

<h2>O que diz a lei sobre os investimentos das concessionárias?</h2>

O marco regulatório do setor elétrico brasileiro estabelece que as concessionárias devem investir na expansão e na modernização do sistema elétrico para acompanhar o crescimento da demanda. Esses investimentos são considerados nas revisões tarifárias, realizadas periodicamente pela ANEEL. Durante esse processo, a agência avalia o equilíbrio econômico-financeiro das concessionárias e decide quanto dos ganhos de produtividade pode ser apropriado pela empresa e quanto deve ser repassado aos consumidores.

Contudo, o modelo atual apresenta lacunas. Em muitos casos, as concessionárias priorizam o retorno financeiro imediato em vez de realizar investimentos de longo prazo que assegurem a expansão da capacidade instalada. Isso pode levar a situações como a enfrentada pelo empresário de Itaberaí, onde a infraestrutura não acompanha a demanda regional.

<h2>Por que falta energia para os empreendimentos?</h2>

O caso da “empresa” é emblemático de um problema recorrente no setor elétrico brasileiro: a defasagem entre planejamento e execução. A falta de energia não se deve apenas à ausência de recursos, mas também a falhas no planejamento estratégico e à priorização de ganhos financeiros sobre o atendimento à demanda futura. Ao reter ganhos de produtividade sem reinvesti-los adequadamente na expansão do sistema, as concessionárias criam gargalos que impedem o desenvolvimento regional.

No caso de Itaberaí, o tempo estimado de dois anos para fornecer energia é inaceitável para qualquer empresário que busca crescer e gerar empregos. Esse prazo reflete tanto a complexidade técnica da ampliação de redes quanto a falta de prioridade dada ao investimento em regiões com maior demanda. Além disso, a burocracia envolvida em processos de licenciamento e execução de obras amplia ainda mais os prazos.

<h2>Um ciclo que precisa ser quebrado</h2>

A crise energética que afeta regiões como Itaberaí é um alerta sobre a necessidade de repensarmos o modelo de concessão e regulação do setor elétrico. Os ganhos de produtividade não podem ser tratados como um benefício exclusivo das concessionárias; eles devem ser compartilhados com a sociedade por meio de tarifas justas e investimentos sólidos na expansão da infraestrutura.

É imperativo que a ANEEL e outros órgãos reguladores exerçam um controle mais rigoroso sobre o uso desses ganhos, exigindo que as concessionárias priorizem a ampliação da capacidade instalada. Enquanto isso não ocorrer, o crescimento econômico de regiões como Itaberaí continuará sendo comprometido, e empresários como o que me procurou continuarão arcando com prejuízos que poderiam ser evitados.

O setor elétrico é a espinha dorsal da economia moderna. Ignorar sua importância no planejamento estratégico é condenar o futuro de empreendimentos e trabalhadores que dependem de um fornecimento estável e eficiente de energia.

A crise energética e os limites dos ganhos de produtividade no setor elétrico

Opinião

Opiniao - título

Assine - Offers Target - 2

Matéria - Opiniao - JTO

Há décadas, a comunidade científica alerta sobre os efeitos das emissões crescentes e recordes de concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. Em 2024 vivemos eventos extremos, como as chuvas no Rio Grande do Sul e a seca histórica na região Norte do país. Na Espanha, chuvas torrenciais afetaram na região de Valência e, nos Estados Unidos, os furacões Helene e Milton atingiram intensidades nunca vistas anteriormente. Em termos geopolíticos e econômicos, a COP29, realizada no Azerbaijão, sofreu muitas críticas, com poucos avanços nas negociações e um resultado tímido na agenda de financiamento climático. Por fim, um passo importante foi dado pelo Brasil com a sanção da Lei 15.042 pelo Governo Federal em 12 de dezembro.&nbsp;

De forma prática, as indústrias devem começar a sentir o efeito da regulação do carbono a partir de 2029/2030. A sanção da nova legislação é a oportunidade de demonstrar o compromisso do Brasil com a agenda global de descarbonização, especialmente com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) às portas do evento que acontecerá em novembro em Belém, no Pará.&nbsp;

Com todos os desafios, aqui na Votorantim Cimentos seguimos com uma agenda de investimentos em transição energética e na economia de baixo carbono, entendendo que somos parte da solução para a descarbonização do planeta. Nossa estratégia de descarbonização está pautada em quatro grandes pilares: o coprocessamento (que é a utilização de materiais alternativos ao combustível fóssil), o uso de cimentícios, que é a substituição do clínquer – o principal responsável pela emissão de CO2 no processo produtivo de cimento – por subprodutos vindos de outras indústrias, a eficiência energética e uso de fontes renováveis de energia, com hidrelétricas próprias e investimentos em energia solar e eólica, e o desenvolvimento de tecnologias, com uso de processos inovadores, novos materiais e&nbsp; captura de carbono. Também olhamos para o potencial de ganho de eficiência em toda a cadeia de valor da construção, otimizando o uso de cimento e concreto, oferecendo produtos de alto desempenho e reduzindo desperdícios nas obras.&nbsp;

Entre 1990 (ano ponto de partida utilizado na indústria de cimento) e 2023, a Votorantim Cimentos reduziu as emissões de CO2 por tonelada de cimento produzido em 27%. Encerramos 2023 com resultado global de missões de 556 kg de CO2 por tonelada de cimento produzido, uma redução de 4% na comparação com 2022 (579 kg de CO2/tonelada de cimentícios. O nosso compromisso público é de chegar a 475kg CO2/tonelada de cimentícios até 2030. Também teremos um esforço relevante em transparência e governança para atender às diretrizes de sustentabilidade do IFRS (International Financial Reporting Standards) e do CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive). Diante da emergência climática, a mudança necessária exige um esforço conjunto para transformar a realidade e promover a descarbonização do nosso planeta.

Fabio Cirilo é gerente de Ecoeficiência e Energia da Votorantim Cimentos, é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com MBA em Gestão de Negócios pela FIA Business School

Quer ter seu artigo ou crônica publicado no Jornal do Tocantins? Envie para o e-mail: contato@jornaldotocantins.com.br

&nbsp;

A descarbonização da indústria em 2025

Fabio Cirilo

Para compor uma lista dos maiores sociólogos brasileiros, adotei critérios objetivos, considerando a relevância das obras e sua projeção internacional. Assim, destaco Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos e Hélio Jaguaribe. Esses autores construíram interpretações profundas sobre a formação e os dilemas da sociedade brasileira, contribuindo de maneira ímpar para o entendimento das complexidades socioculturais do país.

Gilberto Freyre, com Casa-Grande &amp; Senzala, desvendou as dinâmicas de raça e cultura no Brasil. Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, explorou as heranças culturais e o conceito do "homem cordial". Florestan Fernandes destacou-se pela sociologia crítica e pelo estudo das classes sociais. Guerreiro Ramos trouxe uma perspectiva autônoma ao pensamento social brasileiro, enquanto Hélio Jaguaribe enfatizou a importância do desenvolvimento independente e da política nacional.

Fernando Henrique Cardoso, apesar de sua influência na política e na academia, não integra esta lista, pois suas obras não têm o mesmo impacto social e teórico que as dos sociólogos mencionados. Ele e o sociólogo chileno Enzo Faletto desenvolveram a Teoria da Dependência para a América Latina, que foi, no entanto, contestada pelo presidente da instituição onde FHC trabalhava durante o exílio em Santiago: a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), liderada pelo economista argentino Raúl Prebisch.

Prebisch criticou a Teoria da Dependência de Cardoso e Faletto, apontando limitações na sua capacidade de propor alternativas estruturais para o desenvolvimento da América Latina. A teoria, que focava a inserção da região no sistema capitalista global, não oferecia, para Prebisch, soluções efetivas para superar a dependência e o subdesenvolvimento. Ele argumentava que a abordagem carecia de um caminho concreto para o fortalecimento econômico regional, essencial para alcançar a autonomia desejada pela CEPAL.

Diferente de Cardoso, os cinco sociólogos escolhidos não apenas propuseram teorias, mas também apresentaram interpretações profundas da sociedade brasileira e suas dinâmicas. Freyre e Holanda abordaram a formação e as contradições culturais do Brasil. Fernandes explorou as realidades das classes sociais e a exclusão social. Ramos refletiu sobre a necessidade de uma sociologia crítica e emancipatória para o país, enquanto Jaguaribe incentivou uma visão estratégica de desenvolvimento nacional, combinando política, economia e identidade cultural. Esses pensadores conquistaram relevância tanto nacional quanto internacionalmente, oferecendo bases sólidas para os estudos sociais e influenciando intelectuais ao redor do mundo.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/navegando-nas-aguas-de-otto-maria-carpeaux-1.3213733" target="_blank">Navegando nas águas de Otto Maria Carpeaux</a> 
<a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/a-crise-energetica-e-os-limites-dos-ganhos-de-produtividade-no-setor-eletrico-1.3211600" target="_blank">A crise energética e os limites dos ganhos de produtividade no setor elétrico</a></div>

Cada um dos mencionados apresentou perspectivas inovadoras e críticas, construindo uma base sólida para o pensamento social no Brasil. Gilberto Freyre, por exemplo, foi pioneiro ao estudar a sociedade brasileira sob uma lente culturalista. Em Casa-Grande &amp; Senzala, ele desvendou as influências das relações coloniais e escravocratas que moldaram a cultura brasileira, enfatizando uma identidade nacional marcada pela miscigenação. Sua obra ganhou repercussão internacional, colocando o Brasil em destaque no campo da sociologia cultural e racial.

Sérgio Buarque de Holanda, em Raízes do Brasil, analisou a herança ibérica na formação da sociedade brasileira, introduzindo o conceito de "homem cordial" para descrever traços das relações interpessoais e a informalidade estrutural que influenciam o comportamento social brasileiro. Sua análise inovadora ajudou a entender a sociedade brasileira dentro de um contexto de relações de poder e autoridade singulares, e sua obra tornou-se referência essencial para compreender o etos brasileiro.

Florestan Fernandes dedicou-se ao estudo das relações de classe e da estrutura social, com ênfase nos processos de marginalização e exclusão racial. Em obras como A Integração do Negro na Sociedade de Classes, Fernandes aprofundou o debate sobre desigualdade social e a necessidade de políticas públicas que promovam justiça social, influenciando tanto movimentos sociais quanto políticas públicas no Brasil e no exterior.

Guerreiro Ramos propôs uma sociologia autônoma, desvinculada de influências estrangeiras, argumentando que o pensamento social brasileiro precisava desenvolver uma independência teórica e prática. Ele explorou questões de identidade, propondo uma visão crítica ao estruturalismo eurocêntrico dominante no cenário acadêmico da época. Suas contribuições fomentaram um pensamento social mais alinhado com as realidades brasileiras.

Por fim, Hélio Jaguaribe destacou-se com sua análise sobre desenvolvimento nacional e planejamento estratégico, enfatizando que o Brasil precisava investir em políticas econômicas e sociais que o libertassem do subdesenvolvimento. Suas ideias sobre autonomia nacional e desenvolvimento planejado influenciaram políticas públicas e refletiram uma preocupação com o fortalecimento da soberania brasileira em um contexto de dependência econômica.

Esses sociólogos, além de moldarem a visão da sociologia brasileira, dialogaram criticamente com correntes internacionais, marcando sua relevância mundial. Eles deixaram um legado robusto e diferenciado que ainda inspira o pensamento crítico e as pesquisas sobre a complexa realidade brasileira.

Os maiores sociólogos do Brasil: Por que Fernando Henrique Cardoso não está na lista?

Não queremos apenas a vida vivida, queremos experiências!

Hoje é bastante comum em postagens nas redes sociais, como por exemplo no Instagram, encontrarmos a expressão colecionando experiências, geralmente empregada como legenda para um álbum fotográfico em que cenas tidas como marcantes para aquela pessoa são registradas. A ideia é sublinhar que os momentos vividos se destacam do comum do dia a dia - foram especiais, dignos de um capítulo especial na história do autor da postagem. Mas, o que significa viver uma experiência?

A diferença entre o vivido do dia a dia e uma experiência pode ser visualizada por meio de uma estória muito interessante chamada Uma ideia toda azul, de Marina Colasanti. Esse conto narra a história de um rei que teve uma ideia maravilhosa e completamente azul, algo tão magnífico que poderia transformar o reino. No entanto, o rei estava constantemente ocupado com os afazeres do reino e, por isso, nunca encontrava tempo para se dedicar a essa ideia especial. Ele se ocupava com reuniões, conselhos e tarefas administrativas, sempre adiando o momento de explorar sua ideia azul. Com o passar do tempo, a ideia permaneceu intocada e não realizou seu potencial transformador.

O rei não sentia real prazer com essas tarefas – eram apenas afazeres, nada realmente significativo que outra pessoa não pudesse fazer. No nosso dia a dia qualquer vivência pode se transformar em uma experiência, basta que ela tenha potência suficiente para nos fazer querer falar dela, se ocupar com um real interesse. Para o filósofo Walter Benjamim, a experiência está ligada à ação de transmitir algo a alguém por meio de uma narrativa. Isso acontece, por exemplo, quando um pai deseja transmitir alguma sabedoria a seu filho, contando-lhe uma estória, que pode ser sua ou de seus ancestrais.

Um ponto muito importante para que a experiência ocorra é a disponibilidade de tempo. A experiência não é tarefeira. Como se observa no conto, o rei estava empanturrado de tarefas, e não tinha tempo para dar atenção à sua ideia toda azul. Nesse sentido, a psicanalista Maria Rita Kehl diz que uma vida veloz, em que a gente passa de uma tarefa a outra, sem tempo para digerir o que nos acontece, tem sido o terreno fértil para a depressão. O viver fica mecânico e, assim como rei, a gente não tem tempo de dar atenção ao que nos acontece, e vamos vivendo sem vontade e tempo de contar. Talvez, em um álbum do Instagram, a única coisa que fica sejam mesmo as fotos, porque não tivemos tempo para apreciar o local, de interagir com as pessoas – não tivemos tempo para transformar aquelas vivências em experiências. O registro fica nas redes sociais, mas não na memória, no afeto, no corpo.

Quando a grande estória da nossa vida acabar, será que teremos, de fato, pequenos episódios – experiências de vida, que terão valido a pena viver e contar, ou seja, teremos mesmo colecionado experiências?

*Francisco Neto Pereira Pinto é professor Universitário, Psicanalista e Escritor. Autor dos livros À beira do Araguaia;&nbsp;Saudades do meu gato Dom, O Gato Dom e Você vai ganhar um irmãozinho, todos&nbsp;disponíveis na Amazon. @francisconetopereirapinto

Quer ter seu artigo ou crônica publicado no Jornal do Tocantins? Envie para o e-mail: contato@jornaldotocantins.com.br

O que significa colecionar experiências?

Francisco Neto Pereira Pinto

Conhecimento é mesmo um saco sem fundo. Pensei ser um bom entendedor de literatura até que um amigo me apresentou os escritos de um intelectual de fôlego incomum: Otto Maria Carpeaux.

Confesso que me senti um anão literário ante os impressionantes dois volumes de 900 páginas cada do livro de ensaios de Carpeaux (leia-se: Ensaios Reunidos, publicado pela Topbooks). E olha que ainda nem ultrapassei as 400 páginas do primeiro volume.

Falemos um pouco da vida desse grande intelectual, procurando, assim, delinear sua importância para a cultura brasileira. Nascido na então capital do império austro-húngaro (Viena, Otto Maria Carpeaux, então, Otto Karpen), era filho único de um profissional liberal judeu e de uma católica.

<div class="p-readmore-box"><a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/a-crise-energetica-e-os-limites-dos-ganhos-de-produtividade-no-setor-eletrico-1.3211600" target="_blank">A crise energética e os limites dos ganhos de produtividade no setor elétrico</a> 
<a href="https://www.jornaldotocantins.com.br/opiniao/tendencias-e-ideias/como-a-obmep-pode-ajudar-as-escolas-municipais-de-palmas-em-ano-de-construc-o-do-ideb-1.3212718" target="_blank">Como a OBMEP pode ajudar as escolas municipais de Palmas em ano de construção do Ideb?</a></div>

Sua formação acadêmica foi extremamente diversa e luminosa. Carpeaux estudou em diversos centros de ensino europeu. Doutorou-se em filosofia em Viena, estudou matemática em Leipzig; Sociologia, em Paris; Literatura comparada, em Nápoles; e Política, em Berlim. Além de dedicar-se ao estudo da música, era fluente em 15 idiomas. Ainda em Viena, era ele um frequentador dos mais importantes circuitos literários.

Em 1930, Otto casou-se com Helena Carpeaux, que se tornou sua companheira por toda a vida. A guerra o levou a fugir e viver por tempos na Bélgica e, posteriormente, no Brasil. Carpeaux chegou ao país que adotou como sendo seu para iluminar com sua cultura universal nosso pensar provinciano. Intelectual generoso, foi amigo dos grandes de sua época. Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Freyre, Álvaro Lins, Manuel Bandeira, Carlos Heitor Cony, entre outros que tiveram o privilégio de partilhar da convivência com o sábio austríaco.

Ao navegar pelos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux, percebe-se a universalidade do autor em outras literaturas de seu amplo domínio. Seja literatura inglesa, austríaca, francesa, belga, alemã, Italiana ou os clássicos gregos, todos são do amplo domínio do mestre de Viena.

Em “História da Literatura Ocidental”, um calhamaço de seis volumes, Carpeaux transita com desenvoltura pela história da literatura de todo o ocidente. Este é, antes de tudo, um livro que educa sábios. Sábios como o professor de literatura da Universidade de São Paulo, Alfredo Bosi, que por muitos anos bebeu dos escritos desse grande mestre austríaco.

Não gosto de efetuar comparações, mas abro aqui uma exceção. Otto Maria Carpeaux foi, sem dúvida, a cultura mais universal que já teve o Brasil. O acaso da Segunda Guerra Mundial o trouxe para cá. Se tivesse escrito em inglês sua “História da Literatura Universal”, estaria no Olimpo das grandes obras da inteligência humana. Volto para onde comecei. Conhecimento é mesmo um poço sem fundo. Depois que me predispus a navegar nas águas de Otto Maria Carpeaux, tenho uma única e decisiva certeza: só sei que nada sei.

Quer ter seu artigo ou crônica publicado no Jornal do Tocantins? Envie para o e-mail: contato@jornaldotocantins.com.br