Carlos Drummond de Andrade e Gabriel García Márquez, dois gigantes da literatura latino-americana, expressaram em suas obras visões profundas e sensíveis sobre temas como decadência, subdesenvolvimento e solidão. Embora oriundos de contextos culturais e históricos diferentes — Drummond do Brasil e García Márquez da Colômbia —, ambos encontraram em suas experiências de infância e na relação com suas cidades natais o material para reflexões universais. No poema Cidadezinha Qualquer, Drummond descreve com uma simplicidade quase ingênua a vida em uma pequena cidade do interior. A lentidão das figuras que “vão devagar” — o homem, o cachorro, o burro — e a imobilidade das “janelas que olham” pintam um retrato de um lugar estagnado, onde o tempo parece quase parado. Essa imagem de monotonia e isolamento reflete não apenas a experiência de Itabira, cidade natal do poeta, mas também a condição de muitas cidades brasileiras marcadas pelo subdesenvolvimento, onde as perspectivas de mudança e progresso são mínimas.