O deputado estadual pelo Rio Grande do Sul Ruy Irigaray (PSL) é acusado de usar verba pública para pagar assessores que teriam reformado a casa da sogra do legislador. Além da obra, os servidores públicos também teriam realizado atividades na propriedade, como faxinas. Ainda seriam responsáveis por cuidar das filhas do deputado.As informações foram divulgadas pelo Fantástico, da TV Globo, nesse domingo (14). Por meio de seu perfil no Instagram, Iriganay afirmou que as acusações são falsas e que tomou as medidas judiciais cabíveis.As acusações foram feitas ao MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) por Cristina Nebas, ex-servidora, e uma assessora que não quis se identificar. O órgão afirmou que está investigando o caso, que tramita em sigilo.Segundo o MP-RS, o denunciado pelas duas ex-assessoras “em tese pode se configurar como possíveis atos de improbidade administrativa, que importariam enriquecimento ilícito, causariam prejuízo ao erário e atentariam contra os princípios da Administração Pública pelo deputado Ruy Irigaray Junior e assessores parlamentares a ele vinculados”.De acordo com o Fantástico, a casa está localizada em uma área nobre de Porto Alegre e é avaliada em mais de R$ 2 milhões.A residência era usada, segundo Cristina, como uma espécie de escritório do deputado desde abril de 2020 –em vez de trabalharem de casa durante a pandemia, os funcionários foram remanejados para o local.Cristina afirmou que a casa chegou a ter 15 funcionários do deputado que se dividiam entre as tarefas do gabinete e os serviços da casa. Em vídeos gravados pela ex-servidora, os funcionários aparecem trocando o piso e pintando cômodos do imóvel.“Alguns assessores entraram para fazer exclusivamente a reforma da casa. Ele contrata pessoas pagas por nós para fazer esse tipo de trabalho. Enquanto nós deveríamos estar fazendo, todos os assessores, um trabalho para a sociedade gaúcha”, disse Cristina ao Fantástico.A autenticidade das fotos, mensagens de WhatsApp e dos vídeos apresentados pela ex-servidora foi atestada ao programa da TV Globo pelo especialista em tecnologia Ronaldo Prass.Entre as mensagens recebidas por Cristina estão orientações de Laura Irigaray, mulher do deputado, sobre o cuidado das duas filhas do casal. A ex-servidora as levava para atividades como aulas de inglês e partidas de tênis.Cristina disse também que o local funcionava como um “gabinete do ódio”. Segundo ela, mais de 50 celulares eram usados para monitorar grupos de conversas e publicar notícias falsas e acusações contra filiados do PSL, partido do deputado.“O objetivo desses perfis era poder responder e questionar outros deputados sem que afetasse a imagem do deputado Rui Irigaray”, declarou a ex-servidora.Ela ainda acusou Irigaray de instaurar um esquema de rachadinhas –prática na qual os servidores devolvem parte do salário recebido. Cristina afirmou que não aceitou participar, mas que colegas eram parte do esquema.Ao Fantástico, Irigaray negou. “Eu, graças a Deus, não faço essa prática aqui no meu gabinete e não tenho necessidade disso. E mesmo que tivesse, não faria”, disse.Em vídeo postado em seu perfil no Instagram, Irigaray chamou as ex-assessoras de “criminosas” e afirmou que houve adulteração de documentos em seu gabinete.“Esse imóvel é meu escritório político. Há um ano, eu desempenho minhas funções parlamentares aqui. Eu e minha assessoria”, falou. O deputado afirmou que é responsável pelo pagamento das contas da casa, como água, luz e telefone.Sobre a contratação de pessoas que realizaram obras no imóvel, Irigaray declarou que todos os contratos estão registrados em cartório.“Já tomei as medidas cabíveis contra essas senhoras”, disse o deputado. “Na Polícia Civil, o caso vem em aberto desde novembro do ano passado. Também vou tomar novas medidas neste momento”, continuou.“Existem várias testemunhas que se apresentaram nas últimas semanas apontando crimes que foram cometidos por essas senhoras. Tudo isso é tema para ser investigado pela nossa Polícia Civil e pelo Ministério Público.”Eis a íntegra do vídeo: Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Ruy Irigaray (@ruyirigaray)Eis a íntegra da nota do MP-RS:“O Ministério Público do Rio Grande do Sul informa que, na data de 09 de fevereiro, duas pessoas compareceram à Promotoria Especializada Criminal de Porto Alegre onde, de forma espontânea, prestaram declarações em que noticiaram o que em tese pode se configurar como possíveis atos de improbidade administrativa, que importariam enriquecimento ilícito, causariam prejuízo ao erário e atentariam contra os princípios da Administração Pública pelo deputado Ruy Irigaray Junior e assessores parlamentares a ele vinculados.O expediente, que está em sigilo, foi recebido posteriormente pela Procuradoria Geral de Justiça e encaminhado à Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, que tem atribuição para investigar atos de improbidade administrativa.Para a apuração pelo prisma penal, foi designado o promotor de Justiça Flávio Duarte, que realizou o atendimento inicial na Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre, para acompanhamento do expediente, para o caso de eventual constatação de conduta tipificada como crime.Dessa forma, o Ministério Público do Rio Grande do Sul busca o esclarecimento de todo e qualquer fato, para que sejam tomadas as medidas legais cabíveis, caso haja a comprovação de ilícitos.”